domingo, 26 de outubro de 2008

O ônibus

Gente, tem coisas que só acontecem com a gente! Eu me senti como um peixe fora d’água. Pior que o meu amigo francês (maluco) quase teve um orgasmo ao saber. Queria porque queria estar nessa situação. Em véspera de eleições, não poderia me sentir mais desamparado. Esse clima está em todo o lugar. Menos naquele vôo. É porque aquilo foi uma viagem ao inferno! Não que eu tenho algo contra o inferno, pelo contrário, mas eu me senti como um peixe na Coca-Cola.
Deixa eu te contar o que aconteceu ontem. Voltando da Lapa, por volta das 2h da manhã, peguei um ônibus. 397, parador, Avenida Brasil. Tinha a porra toda dentro do inferno de ônibus. Tinha pagodeiros batucando atrás, totalmente sem talento, sem bom gosto. Mas com instrumentos e empolgação, Jesus apaga a luz. Tinha uma criatura que sambou, pegou santo, subiu, sambou... tipo mistura de pai Helinho com Madonna, com mais três arrobas.
E pior que eu achando que todos estavam putos com a situação. Lembrei da professora de direito, da constituição federal, pensei em parar o ônibus, chamar a polícia. Mas como sou brasifroxo, só fiz cara de “que isso?”. Nessas horas eu vejo a utilidade de uma bala perdida para acabar com meu sofrimento.
Em Bonsucesso, me entra um povo e começa a sambar, sabe lá de que ventos trouxeram eles. Você tinha que ter visto o tamanho da bunda da passista, parecia uma alegoria, parecia o carro abre alas da Portela, com direito a Águia. E eu estava tão puto que nem graça achava.
Junto com essa beldade tropical entrou um louco comendo...ele não parou de comer a maumita pra subir no ônibus, nem pra pagar a passagem. Numa das mão a cerveja e na outra a “maumita”. Passou na roleta, quase cai sentado, mas o arroz nem se mexeu. “Pow, nem, vai me pagar outra cerveja” –gritou com a mulher que derrubou no chão do ônibus.
Se não fosse desesperador, até escreveria uma crônica. O meu medo era que o motorista se animasse e, mesmo naquela velocidade, ficasse assistindo pelo retrovisor. O trocador mostrava seu sorriso com escassez de dentes.
Um sujeito que já estava cheio de álcool nas idéias, se enrolando com a própria língua pra falar, disse que ia parar o ônibus e pagaria “cerva” pra todos os pagodeiros! Mas ao ser cobrado, ele disse que “SE SE SE”, estava duro, se tivesse dinheiro... Nesse momento, a galera lá de trás começa a cantar: “quem ta duro, meu bem, reza pra chover...”
Ainda emocionado, o amante da Kátia (katiaça) disse que o que paga o verdadeiro samba era o respeito. E bateu no peito. Se eu batesse no peito com aquela força, ficaria tossindo uma semana. Eu nunca me mexi tanto na minha vida. Por falta de paciência, por medo do senhor que estava “recebendo entidade” cair encima de mim. Ele gritava que era Maria Mulambo. Estava assustado, agoniado.
Quando finalmente chegou ao meu ponto, eu senti a perna bamba – igual quando dá piriri no intestino – e desci. Parecia a libertação de um preso. Um parto. A respiração de quem estava debaixo d’água.
Fiquei feliz. Estava muito feliz. Descobri a felicidade! Se pudesse ao menos ter filmado, meu sacrifício poderia ser transformado em comédia, ou ao menos ir pro youtube, ou virar crônica, anotações de viagem etc. Igual a isso, acho que não existe em lugar nenhum!