terça-feira, 13 de maio de 2008

Educação Popular:Um novo conceito de sociedade

Desde a colonização portuguesa, a educação do povo foi pensada pelos dominadores, ou por seus representantes, para a dominação. Como os padres jesuítas – os primeiros a “educar” o povo brasileiro: os nativos de várias nações, generalizados como “índios”. Uma educação com um forte cunho ideológico religioso (católico) – a catequese, que quer dizer doutrinamento, ensino, propaganda (mesmos sinônimos para a “educação” de hoje).
Os professores eram os exigentes padres-mestres que ensinavam as primeiras letras (o “b-a-bá”), as primeiras contas e as indispensáveis orações, nas aulas de ler, escrever e contar.
As aulas eram uma tortura, os mestres uns carrascos. Suas vítimas eram os filhos do senhor e, muitas vezes também, os filhos dos trabalhadores livres do engenho.
No Brasil colonial, saber era decorar: a tabuada, as regras da língua portuguesa, os dez mandamentos da Igreja Católica, os pecados capitais, os nomes dos reis de Portugal. Nada de Ciência, quase nenhuma arte, pouca reflexão. A maioria dos colégios era dos jesuítas. Os colégios da Companhia de Jesus no Brasil tinham quatro graus de ensino: o curso elementar, o de humanidades, o de artes e o de teologia. Tal como nas escolas européias medievais, a hierarquia e a disciplina, incluindo os castigos corporais, eram consideradas educativas e facilitavam o ensino do senso de responsabilidade e a obediência à autoridade. E os meninos que terminavam o curso de humanidades, e que tinham recursos, iam para Coimbra, Portugal para fazer os cursos superiores de Filosofia e Teologia. Ou talvez Direito e Medicina. E o analfabetismo das meninas (filhas dos senhores de engenho) era considerado virtude:
Mesmo depois que o Brasil deixou de ser colônia, até o século XIX a situação da maioria das mulheres continuou praticamente a mesma: a mulher deve dar-se por muito satisfeita quando sabe dizer corretamente suas orações e copiar receita de goiabada. Mais do que isso é um perigo para o lar.
E para a maioria da população, o povo (agora, composto por negros africanos ou descendentes, mestiços e índios)? Nenhuma educação. No máximo, a do chicote para “aprender” a trabalhar. No Brasil independente, sob dominação econômica e comercial da Inglaterra, sua influência e a de outros países da Europa iam modificando os costumes imperiais brasileiros. O padrão de cultura europeu era valorizado e espalhado, mas ler continuou sendo um hábito pouco estimulado. No Rio de Janeiro capital do Império só haviam duas livrarias – especializadas em catecismos, vidas de santos e livros de orações.
Tempos modernos exigiam novas idéias e o Imperial Colégio de Pedro II, criado em 1837, foi inspirado nos liceus franceses, com seus estudos literários e humanistas, Matemática, Ciências e Educação Física, formava os “bacharéis de letras”, que podiam entrar direto no ensino superior, ou seja, sem o vestibular dos dias de hoje. Mudam as relações de dominação,mas não mudam a intenção de manter o conhecimento exclusivo para os filhos das classes dominantes. Desde então, todas as políticas pensadas e implementadas para o povo mantiveram essa lógica da dominação, inclusive com a criação de estruturas diferenciadas de educação para os filhos das elites e para os filhos das classes populares. Sendo intencionalmente excludente, não se propondo a abranger a todo o povo o acesso ao conhecimento. E, com o advento do capitalismo essa lógica se mantém.
Nos últimos anos, o processo de sucateamento e dilapidação do sistema educacional, têm se tornado mais evidente ora pelas sucessivas denúncias e artigos veiculados pela própria mídia burguesa, ora pelas greves dos profissionais da educação, que vêm denunciando o péssimo sistema educacional. Neste quadro caótico, como pensar que uma criança venha a ter algum aprendizado na escola, estando cansada, extenuada, sem contar a péssima alimentação. Porém, ao ensinar o alfabeto, a soletrar e balbuciar seu próprio nome, ou a desenhar as letras do alfabeto construindo nomes próprios, o MEC apresenta como se fossem dados da diminuição do analfabetismo. No entanto, isso não passa do que podemos considerar como analfabetismo funcional. Os professores do Pré vestibular Popular do Sind-Pd Rio de Janeiro,afirmam : “estamos tentando um novo caminho e propondo as(aos) demais companheiras(os) construir em conjunto, tendo como base central a perspectiva de uma sociedade justa, humana e igualitária. E estamos convictos que, para tal, o ponto de partida está na construção de sujeitos ativos do processo histórico ,pois, de nada adiantará nossos esforços se não apostarmos na capacidade de desenvolver e estimular formulações, elaborações, pensamentos, interpretações e questionamentos. Pontos chaves para o despertar da consciência, É nesse sentido que temos pautado a nossa atuação, em especial com os pré-vestibulares populares. Enfim, possibilitar a construção de seres capazes de caminhar e trilhar o seu próprio caminho”.
Portanto temos que nos despir da herança colonial, priorizando o resgate de nossa identidade cultural, as nossas raízes e origens, a luta de nossas (os) ancestrais. .Temos que disputar a consciência e transformá-la em consciência de classe (proletária) ativa e presente.A construção de uma sociedade crítica, onde sejamos capazes de decidir nossos próprios rumos, precede recuperar a vida, a auto-estima, a coletividade, o sentimento de grupo, a sensibilidade, a dignidade, o respeito à si e às(aos) companheiras(os). E, para começarmos a derrubar seus pilares de sustentação. Em nada adianta falar na derrocada da sociedade capitalista burguesa, se não fazemos primeiro.


Por: Daniele Carvalho

Fontes: Roberto Magalhães e Marlana Rego


Agradecimentos aos Professores, companheiros e militantes do pré vestibular popular (Sind-Pd), Roberto Magalhães e Marlana Rego, pela dedicação e compromisso em ajudar pessoas não apenas a cursarem um nível superior, mas formando uma consciência crítica e ver que é possível desconstruir conceitos pagmáticos pré-formados e construir um novo conceito de sociedade (coletiva e igualitária).A vocês a minha eterna gratidão.

3 comentários:

  1. Somos educados para ter como única verdade a ideologia dominante. É preciso transpor esta barreira, criar nossa própria ideologia (povão) e mudar essa realidade pautada em um modelo de produção perverso que mercantiliza as relações sociais. É preciso valorizar os mestres que realmente conseguem transmitir o conhecimento, sendo necessário assumir nossa responsabilidade diante de nossa sociedade, parar de criticar e pôr a mão na massa. Belíssimo texto. Parabéns aos companheiros(as) Daniele, Marlana e Roberto.

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  2. "derrocada da sociedade capitalista burguesa"
    "construir um novo conceito de sociedade (coletiva e igualitária)"
    QUE MARXISMO MAIS ULTRAPASSADO...

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