quinta-feira, 20 de março de 2008

Brasil" Uma ilha de letrados num mar de analfabetos"

Pesquisas mostram que a “educação” no Brasil continua restrita a certos grupos, os privilegiados. Mesmo com a implantação de programas de universalização do acesso, a escola não consegue ponderar as desigualdades geradas pelo sistema educacional: o desempenho individual, a competição, o chamado fracasso escolar.
O tema educação vem gerando conflitos entre governo, população e acadêmicos, porém essa não é uma questão nova como muitos pensam: ela existe desde o período colonial, onde “educar” sempre foi visto como uma estratégia de domínio do colonizador. Apenas as famílias que tinham recursos podiam mandar os filhos para Coimbra, Portugal. A partir daí começou a ser formada a elite intelectual. “Não somos mais escravos, porém o Brasil ainda não conseguiu se libertar da senzala do analfabetismo”. Os marginalizados permanecem às margens, e o conhecimento dominado por “uma ilha de letrados mergulhada em um mar de analfabetos”
O sistema educacional brasileiro encontra-se em total decadência. O governo tem desenvolvido programas educativos que amenizam a situação, mas está bem distante de resolver a precariedade do ensino público. Quero ressaltar que estamos no marco do sistema capitalismo de produção, entretanto educação universal, uma das principais bases para a sustentação desse modelo sócio-econômico é algo bem distante. Ensinar apenas para melhorar o capital humano, traduz a idéia de induzir o proletariado a vender seus pensamentos por algumas moedas. É fundamental desenvolver a consciência de que o problema educacional brasileiro como tantos outros, não é apenas culpa do governo como atribuímos; mas de todo um sistema sobre o qual fomos gerados e do comodismo que insistimos em permanecer aceitando tudo que nos é imposto sem sequer questionar. Uma sociedade pragmática, egocêntrica, voltada para a ideologia do ter. Sendo assim fica difícil mudar a precariedade que se encontra a nação brasileira.
Possivelmente se o governo começar a investir na educação básica, nos professores, criar metas para educar e formar com qualidade, não havendo diferença entre escola do rico e do pobre. Se a problemática da miséria que vive a maioria da população passar a ser vista como uma questão nossa, e a evasão escolar devido ao trabalho infantil for erradicada através de programas não paternalistas, mas de emprego que ofereçam condições dignas de vida a essas famílias, ai, quem sabe assim, possamos recriar o Brasil com um novo conceito de sociedade.



Daniele carvalho
dani_lider2@hotmail.com


Fotos:

Sala de aula :http//www.domclaudio.blogspot.com
Projovem:http//www.projovem.gov.br/img/olinda-003.jpgExploração infantil:http//www.photogafos.com.br/users/JULIERe CÈLIA /no...
Escola José coreolano:http//www.fotogarrafa.com.br/fotoarquivos/2004-09 html

segunda-feira, 17 de março de 2008

Não lave suas mãos! Salve o Redentor!

Por: Suely Vieira
Estava passando pela Av. dos DEMOCRÁTICOS outro dia, vi um cartaz que me chamou a atenção: “Diga Não ao fechamento do Abrigo Cristo Redentor!”.
Lembrei-me de quando conheci o lugar. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe, a meu pedido, me comprou um dicionário enciclopédico de um jovem que os vendia para angariar fundos ao abrigo - e não foi barato não! capa dura; ótima encadernação. tenho até hoje! - Mesmo reticente, pois não sabia se o rapaz realmente representava o abrigo, ela comprou. O rapaz pegou nossos dados e se foi. Alguns dias, ou semanas depois, não lembro ao certo, recebemos um certificado, em meu nome, como colaboradora, uma carteirinha e um convite para conhecermos o abrigo, e fomos. Fiquei bastante sensibilizada e admirada com o trabalho daquelas pessoas, da luta travada para manter o local. Mas confesso que não voltei mais... Sabia que ele estava lá e lavei minhas mãos...Por 28 anos! Agora, essa instituição histórica e que é referência nacional no trato ao idoso carente, cerca de 300, alguns com mais 90 anos, está ameaçada.
A Secretaria Municipal de desenvolvimento Social, com o apoio da Prefeitura do Rio, havia decretado a extinção do do Abrigo do Cristo Redentor, com o aval de nosso Prefeito, em mais um ato de insanidade.
Localizado no bairro de Higienópolis, Rio de Janeiro - foi fundado em 1935, pelo Dr. Raphael Levi Miranda, com apoio do Presidente Getúlio Vargas. – A entidade prestou, no decorrer de seus 73 anos de existência, importantes serviços de assistência aos idosos. Mas agora intenção da prefeitura é que o local dê lugar a um projeto chamado "Cidade da Assistência Social", que prevê um "trabalho de inclusão social" a crianças e jovens das favelas próximas (Manguinhos, Alemão e Jacarezinho), e os idosos seriam postos à disposição, para ADOÇÃO, de famílias que receberão entre R$ 500,00 e R$ 900,00 mensais para cuidar deles.
Como sabemos o Estatuto do idoso completou quatro anos, mas a legislação que deveria garantir melhoria de qualidade de vida da parcela da população que mais cresce no país, continua sendo desrespeitada a cada dia, tornando corriqueiros os casos de abusos e agressões a idosos no nosso país, como vimos recentemente na mídia. E mesmo as famílias que já pagam pelo trato e bem estar de seus idosos se vêem desamparadas diante de tanta ignorância e desumanidade, custando a acreditar que alguém seja capaz de gestos tão violentos contra pessoas tão indefesas, mesmo quando captados pelas câmeras de vigilância.
No acham que poderia resultar essa “brilhante” alternativa da prefeitura?
Parece que após as manifestações de repúdio a decisão do fechamento da entidade, César Maia voltou atrás. Em carta ao Comitê Fraternidade e Defesa da Vida, ele diz que não haverá a remoção dos idosos e sim uma parceria entre o município e a união para a manutenção do estabelecimento. Porém o vereador Márcio Pacheco, Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, teme que a proposta volte a ser discutida na prefeitura e pede que as manifestações populares continuem.
Quem sabe assim ao invés de apenas festejarmos a cultura japonesa, em seu centenário, possamos absorver o modo com que tratam seus idosos e darmos mais dignidade aos nossos.
Por isso peço aos leitores que reflitam e não lavem suas mãos! Salvem o Redentor!



segunda-feira, 10 de março de 2008

Fale mal, mas fale

Por: Suely Vieira



O homem sempre procurou meios para se comunicar. Através de gestos, sinais, símbolos ou sons, buscava transmitir idéias, pensamentos e até sentimentos.
Tudo começou na pré-história, onde o homem pintava seu conhecimento de mundo para os que viriam após ele (ficaram também conhecidos como os primeiros pixadores da história).
Um desenho podia dizer muita coisa, como: “- Neanderthal tá pegando a Evinha Parreira, aí!”; “- Caraca! A Evinha! Cara, ela já saiu com geral!”


Esse método se sofisticou com a escrita egípcia. Os hieróglifos eram o mais moderno meio de comunicação de sua época e ainda ajudou algumas culturas a desenvolverem o alfabeto, pois homem percebeu que ao juntar uma ou outra letra criava palavras que significavam algo para ele e seus semelhantes: “- Zeus! Será que César exerga que a Cléo está traindo ele com o Marcão?!”.“- Eh! Ele não dá sorte no amor, né!? Vive levando punhaladas, o coitado!”

Mesmos os povos primitivos e que não desenvolveram a língua escrita achavam um meio de fazer um inferno entre si e os outros... digo se comunicar: “- Tum-tum-tum... Vamo invadir sua aldeia!” ou “Tum-tum-tum... Guidá tava na casa de Noca. Aí, Calu chegô da caçada e pegô eles furunfando. Que fraga, sá menina!”. Ou usavam sinais de fumaça, mas com a mesma finalidade...
“Vumpt,vumpt, vumpt... Vamo invadir sua aldeia!" ou “Pocarontas tava se atracando no riacho com homem-branco, haw!”


Na idade média o homem usou de vários artifícios para se comunicar. Produziu os primeiros livros... Imaginem rolos e mais rolos de papiros escritos à mão! Crê?! Havia também os proclames em praça pública ao som das clarinetas da Banda Os Arautos do Rei; o pombo-correio... Mas como sua chegada era incerta, institui-se a figura do carteiro, garantindo assim a chegada da mensagem: “Escrevo-lhe esta para contar, que a Princesa está flertando com o Duque de Stanford, o que é de conhecimento de toda a Corte. Só Vossa Alteza não se dá conta de que um adorno real floresce em sua fronte. Pobre Majestade!”


Ah, mas isso foi até a chegada de um nerd, Gutenberg (o cara), que inventa a Imprensa (como se já não houvesse). Comunicação em massa, comunicação para as massas... O boca-a-boca se sofistica e passa a ser de mão em mão.
No séc XIX , o homem descobriu como enviar mensagem mais rápido e de face a face da Terra. Foi graças a outro nerd, Samuel Morse, o Samuelsinho. Ele criou o tataravô do messenger, o Telegrafo (até é hoje usado quando alguém precisa de ajuda e não quer pedir para Iemajá). Fora isso era: “B0-.2D.-P7.-J5.-K3.-2L... Kennedy está de caso com atriz de Hollyood.”; “ D1.-H7.-J5.-K3.-BF.-2L... O dele tá na reta e ele nem se toca, é vacilão mermo!”.

Outras grandes invenções dos nerds foram: o rádio, ao transmitir a mensagem por ondas sonoras; depois a tv que transmitia som e imagem ao mesmo tempo, esta última, para alguns, a maior invenção do séc XX, mas há quem diga ser ela o grande mal do século e responsável pelo que nos tornamos, “Os Teletubies”. Gostando ou não, a verdade é que todo mundo assiste: “É Fantástico! Angelina Jolie e Brad Pitt discutem se vão adotar mais uma criança flagelada!”; “Cantora Madonna, se defende e diz que não foi jogada de marketing a adoção de criança africana. Veja, veja!”. É o pânico na tv!

Tido como o veículo mais importante da história da comunicação, o telefone foi inventado, por outro nerd, Alexandre Graham Bell, em 1876, para facilitar nossa comunicação. Claro que não se compara nem de longe ao que entendemos hoje por telefone, mas o conceito estava lá e cumpria bem seu papel:“Disc-disc-disc...vrumm... Disc-disc-disc...vrumm... Alôôo, Joanaaaah?! Tá me ouvindo, mulé?! Tenho uma pra ti contar! Alô?! Joanaaaah?!”

Pelo telefone, podemos falar, enviar fax, acessar a internet... Internet?
Bem, dois nerds (eles de novo!), após um processo de décadas de desenvolvimento da informatização da comunicação, desenvolveram o primeiro microcomputador, Apple I, um ano depois da fundação da Microsoft, pelo nerd-mor Bill Gates. Eis que, um europeu (quem diria), Tim Berners_Lee, como não quer nada cria a World Wide Web (WWW), a tataravó da Internet. Ai já sabe, né!? Deu-se a desgraça! Foi aberto o Portal do inferno! O que se falava, agora pode ser visto no YouTube! Cicarreli que o diga! Hoje há transmissões via satélite, onde que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo tem acesso às imagens e sons vinculados pela grande rede... É quase uma teleconferência! E você ainda pode opinar sobre assuntos importantíssimos, como: “Tec-tec-tec... O que achou do último paredão?” “Tec-tec-tec... Achei que o Marcelo devia ter sido eliminado há muito tempo!” “Tec-tec-tec... Ah, mas sem ele não teria graça. Você acha que teve manipulação?” “Tec-tec-tec... Claro! É tudo armado para dar audiência!”

Cabe a pergunta: Para onde mais pode evoluir nossa comunicação?



Fotos e Imagens:

BBB no Paredão

A falta de criatividade realmente está tomando conta da Televisão Brasileira e, quem diria na GLOBO. Esta última edição do Big Brother Brasil (vulgo BBB 8), tem realmente se superado no que diz respeito a falta de conteúdo e de credibilidade do programa.Já não bastassem as intrigas, as fofocas e a exposição permanente de corpos desnudos, o programa inventou o tal de “Paredão Triplo”. Uma evidente maneira de tentar recuperar a audiência que anda deixando os diretores do programa preocupados. Pelo menos não vai existir um BBB 9, esperamos nós, afinal tudo que é demais, enjoa... Essa história de três pessoas estarem correndo o risco de sair da casa, não tem ajudado muito na fórmula ultrapassada do programa, nenhuma das tentativas de reaver a audiência de edições anteriores tem dado certo. Isso aos olhos dos críticos de TV é um sinal dos tempos, mostra que a população brasileira está sabendo, até que em fim, reagir diante de tamanha afronta à dignidade humana e ao bom conteúdo que a televisão deveria passar.Festas, convidados especiais, e tudo que for possível colocar (diga-se apelar), será feito, mas uma coisa é certa: nem se a produção colocasse todos os artistas da GLOBO na casa, adiantaria, mesmo por que isso já seria “Casa dos Artistas” e não o BBB. Esperamos que essa tortura acabe logo, senão quem vai para o “paredão” é a emissora carioca.


Fábio Barbosa
Imagem: Rede GLOBO

sábado, 8 de março de 2008

Uma questão de postura

Até bem pouco tempo, ecologia era assunto de neo-hippie e quem dava importância à preservação do meio-ambiente era eco-chato. Pensar o planeta em uma visão mais holística da existência era questão para esotéricos, monges e afins. Até mesmo a palavra holística era – e ainda é – quase sempre acompanhada de um certo preconceito ou desdém. Conceber o homem como ser integrado ao meio em que vive, do qual faz parte, podendo modificá-lo para o melhor e o pior é bastante difícil em uma vida atribulada por questões prágmáticas.

Em um mundo em que todos lutam pela sobrevivência, olhar o entorno e enxergar mais do que o restrito, conseguir enxergar e reconhecer o complexo sistema em que estamos inseridos exige realmente uma certa boa vontade.

Atropelado pelo cotidiano capitalista, o meio ambiente era assunto para quem dispunha de tempo, quase um artigo de luxo. O tema só entrou em discussão mais efetiva com a divulgação, no início do ano passado, do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas. O IPCC (sua sigla em inglês) é formado por dois mil e quinhentos especialistas internacionais, que nos últimos quatro anos analisaram os estudos científicos publicados sobre as mudanças climáticas no planeta. O relatório, de 29 de janeiro de 2007, contém prognósticos não exatamente agradáveis sobre o futuro da Terra, que indicaram que talvez a tal visão holística, considerando sociedade e ambiente como setores atrelados, cujos problemas só podem ser resolvidos se pensados em conjunto, seja mesmo uma via possível.

Até porque, de forma bem imediata, de que adianta cada indivíduo, aos trancos e barrancos, conseguir equilibrar vida financeira e emocional se em um futuro próximo não houver mais vida?

Para que a humanidade possa continuar existindo como a conhecemos, e nesta humanidade estão já compreendidas as gerações mais novas de hoje, é urgente que se aja com esse objetivo. Isso, obviamente, se for de interesse geral que a humanidade continue existindo.

Alguns dos principais pontos do relatório já demonstram a abrangência dos efeitos da atual degradação. O longo prazo tem ficado cada vez mais curto e as previsões chegam a falar em menos de cinqüenta anos. Diferente do Protocolo de Kyoto, o relatório do IPCC mostrou que, além de governos e empresas, é necessário mobilizar também – e principalmente – a sociedade civil nesse sentido. Em relação aos governos, o processo de globalização destituiu-os de efetiva voz de comando que uma vez possuíram, e eles agora podem ser (no máximo) mecanismos reguladores em articulação com as empresas.

Quanto a estas, já está claro que “responsabilidade ambiental” tornou-se um slogan publicitário, que a “marca verde” também é um negócio e que o hypado mercado de carbono pode acabar transformando o mundo em ilhas de fábricas esfumacentas com uma cerca de árvores reflorestadas – como já advertira o cientista inglês James Lovelock, em seu livro A Vingança de Gaia, de 2006.

Nesse túnel sem um fim luminoso, o que se apresenta como única solução viável é a mobilização da sociedade em seus indivíduos – já que são eles, em separado, que constituem, em conjunto, os governos e as empresas. Se possivelmente muitos cidadãos não consideram ter culpa nesse processo, atribuindo-na quase sempre às “entidades superiores” empresas e governo, todos começam a atentar para sua responsabilidade na transformação deste painel. No entanto, entre a conscientização e a ação, uma postura realmente ativa em relação a como tentar reverter ou neutralizar esse quadro dificlimente é adotada pelos indivíduos, que não se consideram parte do sistema.

O que é negativo é do outro, é alheio - e nesse eterno “deixa que eu deixo”, a consciência de suas culpas e responsabilidades quase nunca se transforma em ação.

Mecanismos de um sistema mais abrangente, os indivíduos precisam tomar parte, assumir o poder que têm dentro desse sistema, assumir uma posição e suas devidas conseqüências. Como todas as questões mais debatidas na atualidade - corrupção, pobreza, violência -, a atitude ambiental se revela, acima de tudo, uma questão de postura.

Maíra Fernandes de Melo

sexta-feira, 7 de março de 2008

Filas da Vida

Você já se perguntou, alguma vez, o porquê de termos de enfrentar tantas filas? É fila para isso, para aquilo, e por aí vai, e por mais que você tente fugir delas, sempre encontra uma nova fila e quando percebe, a fila já mede quilômetros, ou melhor, anos-luz de onde você está até o caixa/atendente.

Até para nascer há fila, pois desde o momento em que seu pai, “brincando” com a sua mãe, lhe põe para fora, você tem que seguir um caminho aparentemente curto, mas que dá trabalho, pois se você não chegar ao sol (óvulo) primeiro, provavelmente algum outro irmão-inimigo ocuparia o lugar que por direito é seu.

Enfim, você chega ao sol, e lá toma de conta do terreno, como quem invade uma terra. Aí, aquela trabalheira toda. É fila para consultar um médico, para saber como você está. Fila para te tirar dessa redoma, e por aí vai...

Você cresce e passa a deixar de ser acompanhante para tomar o seu lugar na fila, uma qualquer aí da vida. É fila para fazer a matrícula na escola, para entrar na sala de aula, fila na padaria para pagar o pão que você tenha comprado, entre outras mais.

É fila no supermercado, que inventou aquele “caixa rápido”, mas que no fundo demora mais do que se você tivesse enfrentado o caixa daquela gente com os carrinhos lotados. O pior de tudo é que esse tipo de caixa para poucos volumes, geralmente, só tem um atendente. Quando você ainda não tenha que disputar com um idoso, gestante e/ou deficiente um lugar na fila, ou uma simples chance de pagar pelo que está levando, porque já está com a barriga roncando de fome, ou tenha deixado a máquina de lavar em uso, ou simplesmente, deixado o feijão no fogo ou um filho dormindo.

Você vai ao banco, é aquele tormento: propagandas milionárias, tentando te iludir de que é um banco perfeito mas que funciona com dois a cinco caixas (como se isso bastasse para atender centenas de pessoas em dias de pagamento).

Como se as leis que tratam do tempo da fila adiantassem alguma coisa! Não tem fiscalização! O que você esperava? Às vezes, vem aquele funcionário para dar um papel para que você entregue ao caixa, para controlar o tempo na fila. Por que o papel não é entregue ao último da fila, mas sim, a alguém que está lá no meio? Outra coisa revoltante são aquelas cadeirinhas “me engana que eu gosto”, que na verdade é para fazer você esquecer o tempo da fila, batendo papo com um monte de velhinhos (coitados), mais para lá do que para cá.

Você vai a um hospital qualquer marcar uma consulta, é aquilo!: Uma fila interminável, uma atendente que te olha com desprezo, um monte de gente já pedindo para ser enterrada, que te dá uma “coisa” e você fica logo com vontade de ir embora, e fora o fato de chegar cedo para pegar “senha” para ser atendido. Você tem que madrugar lá. A droga da consulta está marcada para as 8h, o médico só começa atender às 9h/10h. Assim, não dá!

Se isso fosse tudo estaria ótimo, mas não é, e parece não ter fim. Para ir trabalhar é uma fila horrorosa, para entrar naquelas “latas de sardinha” (ônibus, metrô e trem). Nos veículos complementares, aquela coisa: você vai apertado. O cara quer botar mais gente do que a capacidade permitida e ainda tem o fato de colocarem, diversas vezes, aquele ridículo banquinho de plástico para que possa viajar mais um, e por aí vai.

Acho que você está compreendendo aonde quero chegar, pois do jeito que está, não dá! Para casar, você tem que enfrentar fila para marcar o dia e a hora do casamento. Só não tem fila para a morte, mas talvez tenha para entrar no inferno. No Céu, provavelmente não tem fila, mas quem é que vai para lá hoje em dia?

Você quer ir a um show, fila! Para almoçar num desses restaurantes self-service, mais filas (tanto para pôr a comida quanto para pagá-la). No entanto, não podemos nos esquecer daquelas filas que não se vêem, como por exemplo, quando você pega o seu bendito telefone para solicitar e/ou reclamar de algum serviço de telefonia, TV a cabo, cartão de crédito, bancos, lojas virtuais, entre outros, e fica ouvindo aquela “musiquinha lexotan”, para conduzir a suportar o tempo de espera, que nunca é de apenas um minuto e meio, e por aí vai...

Em dia de eleições, não tem igual: Você precisa comparecer a alguma seção eleitoral, porque é obrigado, enfrenta uma “fila do cão”, pega um monte de gente que não sabe sequer, assinar o nome, atrasando mais ainda (não estou criticando o fato de as pessoas não terem estudo, apenas ao sistema que não facilita para essas pessoas), idosos, muitos, que não têm mais a obrigação de votar, mas acham que por votar, estarão exercendo a cidadania, ou se não for por isso, querem provar para si mesmos que ainda existem. Ainda tem aquelas mães que carregam umas crianças maiores que elas, só para passarem na frente dos outros na fila, já que a lei favorece a elas, ou simplesmente, facilita ao erro. E, por aí vai..., o “nosso Brasil”, com as suas incontáveis filas.

Depois de tudo o que você enfrentou, pôde se dar conta, de que a vida está cheia de filas, e provavelmente terá de ocupar o seu lugar nela por bem ou por mal, mas terá de fazê-lo. Espero que você não tenha enfrentado fila, para ler este artigo. Até mais, em algum outro texto ou quem sabe em alguma dessas filas em que a vida nos põe.
DIego Francisco

quinta-feira, 6 de março de 2008

Meu nome não é Silva

A população brasileira é composta pela miscigenação de várias etnias. Índios, negros e brancos compõem a estruturação do povo brasileiro. No entanto, por questões históricas e principalmente políticas (interesses), a etnia branca sempre obteve destaque em relação às demais. Uma preponderância que até hoje pode ser facilmente percebida por um olhar mais crítico. Ainda remanesce, mesmo que minimizada, a sobreposição da etnia branca sobre as demais principalmente no inconsciente das pessoas que a mantém dia após dia.
No estudo de História nos primeiros anos de formação dos cidadãos brasileiros, aprende-se amplamente sobre a história dos brancos, as diversas origens destes (Portugal, Espanha, França, Holanda, Itália, Alemanha, etc.), os seus grandes feitos e até mesmo sobre suas histórias pessoais, como a “tara” de Dom João por frango. Já sobre os negros e índios, pouco se sabe. Parece que todos os negros vieram do mesmo “saco de gatos”, que a única manifestação cultural deles é, além de adorar Orixás, o que até hoje é duramente marginalizado, batucar tambores ao dançar feito loucos possuídos. “Negros e mulatos são bons de cama”, o que é muito espargido no exterior, somados a conceitos equivocados de que “não-cristianismo” é tudo macumba, demonstra ora ignorância causada basicamente pelo interesse de diminuir a etnia negra, ora pela hipervalorização das etnias brancas, ou ainda falta de reflexão sobre a sociedade.
“Eu sou neto de alemães” (falado com a “boca cheia”) indica, assim como a idolatria por sobrenomes diferentes (os mais badalados são alemães e italianos) e rejeição de seus sobrenomes populares (como Silva) por parte de brasileiros, o juízo de valores em questão.
Imagine que duas pessoas visivelmente perdidas tomem o metrô. A qual delas seria dada maior assistência, posto que uma delas seja um “gringo” e a outra um brasileiro normal? É possível que seja dada igual assistência a ambas as pessoas. Entretanto, é comum que os “gringos” recebam maior atenção e ajuda. As pessoas normalmente “embromam” um inglês e/ou falam como se o ouvinte fosse retardado, sem contar que utilizam de gestos com expressividade quase igual a dos “mímicos sombras”. Todo esse esforço é usado para que o turista seja ajudado. Dificilmente reclama-se com um estrangeiro que senta no banco laranja (acentos preferenciais a idosos, gestantes, portador de necessidades especiais, etc.). Já um estudante, por exemplo, corre o risco de ser ofendido se fizer o mesmo (principalmente se for da rede pública).
Ufanismo e xenofobismo não são pautas desse texto. Tampouco se trata de um texto racista. O Turismo é ferramenta essencial para uma boa formação de um cidadão, inclusive do turista cidadão, e, sem dúvidas, ótima oportunidade para conhecimento e aprendizado de culturas exógenas, desde que seja feito com consciência, planejamento e responsabilidade.
O sotaque, assunto muito discutido em nossa sociedade, tanto o do estrangeiro quanto do turista nacional, é um ponto no qual também há indícios claros do pensamento social em questão na análise proposta neste texto. Um obrrrigada do turista estrangeiro é visto por muitos como “fofo”. Já a variação lingüística de um brasileiro de uma outra região, como em “porrrta”, é objeto de escárnio.
Essas são mostras de um pensamento social altamente minado de fundamento ideológico. É provável que o leitor tenha conhecimento e percepção dessas e de outras (mostras) com o mesmo cunho ideológico. Estar atento a essas e outros “vícios” ideológicos e, o mais importante de tudo, agir conscientemente de acordo com a percepção, proporciona uma verdadeira cidadania, que vai além daquela taxada como simples ato de votar e pagar impostos. Afinal, hipocrisia, palavra excessivamente utilizada nos dias atuais, é justamente uma incoerência entre pensar, discursar e agir.

Gean Queiroz