quinta-feira, 6 de março de 2008

Meu nome não é Silva

A população brasileira é composta pela miscigenação de várias etnias. Índios, negros e brancos compõem a estruturação do povo brasileiro. No entanto, por questões históricas e principalmente políticas (interesses), a etnia branca sempre obteve destaque em relação às demais. Uma preponderância que até hoje pode ser facilmente percebida por um olhar mais crítico. Ainda remanesce, mesmo que minimizada, a sobreposição da etnia branca sobre as demais principalmente no inconsciente das pessoas que a mantém dia após dia.
No estudo de História nos primeiros anos de formação dos cidadãos brasileiros, aprende-se amplamente sobre a história dos brancos, as diversas origens destes (Portugal, Espanha, França, Holanda, Itália, Alemanha, etc.), os seus grandes feitos e até mesmo sobre suas histórias pessoais, como a “tara” de Dom João por frango. Já sobre os negros e índios, pouco se sabe. Parece que todos os negros vieram do mesmo “saco de gatos”, que a única manifestação cultural deles é, além de adorar Orixás, o que até hoje é duramente marginalizado, batucar tambores ao dançar feito loucos possuídos. “Negros e mulatos são bons de cama”, o que é muito espargido no exterior, somados a conceitos equivocados de que “não-cristianismo” é tudo macumba, demonstra ora ignorância causada basicamente pelo interesse de diminuir a etnia negra, ora pela hipervalorização das etnias brancas, ou ainda falta de reflexão sobre a sociedade.
“Eu sou neto de alemães” (falado com a “boca cheia”) indica, assim como a idolatria por sobrenomes diferentes (os mais badalados são alemães e italianos) e rejeição de seus sobrenomes populares (como Silva) por parte de brasileiros, o juízo de valores em questão.
Imagine que duas pessoas visivelmente perdidas tomem o metrô. A qual delas seria dada maior assistência, posto que uma delas seja um “gringo” e a outra um brasileiro normal? É possível que seja dada igual assistência a ambas as pessoas. Entretanto, é comum que os “gringos” recebam maior atenção e ajuda. As pessoas normalmente “embromam” um inglês e/ou falam como se o ouvinte fosse retardado, sem contar que utilizam de gestos com expressividade quase igual a dos “mímicos sombras”. Todo esse esforço é usado para que o turista seja ajudado. Dificilmente reclama-se com um estrangeiro que senta no banco laranja (acentos preferenciais a idosos, gestantes, portador de necessidades especiais, etc.). Já um estudante, por exemplo, corre o risco de ser ofendido se fizer o mesmo (principalmente se for da rede pública).
Ufanismo e xenofobismo não são pautas desse texto. Tampouco se trata de um texto racista. O Turismo é ferramenta essencial para uma boa formação de um cidadão, inclusive do turista cidadão, e, sem dúvidas, ótima oportunidade para conhecimento e aprendizado de culturas exógenas, desde que seja feito com consciência, planejamento e responsabilidade.
O sotaque, assunto muito discutido em nossa sociedade, tanto o do estrangeiro quanto do turista nacional, é um ponto no qual também há indícios claros do pensamento social em questão na análise proposta neste texto. Um obrrrigada do turista estrangeiro é visto por muitos como “fofo”. Já a variação lingüística de um brasileiro de uma outra região, como em “porrrta”, é objeto de escárnio.
Essas são mostras de um pensamento social altamente minado de fundamento ideológico. É provável que o leitor tenha conhecimento e percepção dessas e de outras (mostras) com o mesmo cunho ideológico. Estar atento a essas e outros “vícios” ideológicos e, o mais importante de tudo, agir conscientemente de acordo com a percepção, proporciona uma verdadeira cidadania, que vai além daquela taxada como simples ato de votar e pagar impostos. Afinal, hipocrisia, palavra excessivamente utilizada nos dias atuais, é justamente uma incoerência entre pensar, discursar e agir.

Gean Queiroz

8 comentários:

  1. Muito bom,parabéns Gean.

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  2. oi Gean....
    achei muito bom seu texto,
    parabens!

    pensei no seu texto ontem ....
    Então mais um comentário.... :

    esse esforço q brasileiro faz para que o turista seja ajudado é muito importante para o Brasil.
    Também acho que seja uma coisa ¨típica¨ no Brasil, ou pelo menos no Rio. (exceção: bandidos) Pode ser que vc ache ridículo um pouco (mímicos sombras) rsrsrs, mas dá pra ajudar
    Eu não sei muito sobre seu país, mas sem dúvidas gostei desse tratamento de gringão... para falar verdade, deve ser uma razão para meus ambições para aprender a língua...

    Eu já viajei para Grécia, a Espanha, Portugal, a Suécia e aos outros países na Europa, mas nunca encontrei um povo tanto gentil como o povo brasileiro.... (particularmente achei horrívelmente ingentil os Espanhois....) e isso é um avantagem para o ramo turístico no seu país....

    Se não tivesse essa merda de problemas sociais... q são o raíz da criminalidade.... o Brasil seria um ´dos lugares turísticos mais interessantes do mundo........

    O povo já está se esforçando.... vcs só precisam de funcionários e políticos q se esforcem tb....

    abraços

    chris

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  3. Gostei, Gean.
    Sou branco "azedo". Porém, a humanidade não surgiu na África? Desta forma sou afro-descendente.

    Não surgiu na África, mas na Ásia?

    O que importa? Sou ser humano...

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  4. Assisti outro dia a uma entrevista para o Roberto D'Ávila de um historiador (esqueci o nome dele, falha minha), que analisava essa característica do brasileiro de receber bem, como disse aí em cima o Christian, de uma maneira bem interessante: na maior parte das nossas tribos indígenas, quando há um casamento, o homem é quem vai morar com a família da mulher, que já tem uma oca para um monte de gente. Uma das principais questões nesse casamento era a forma como a família tratava seu novo membro, que teria que se sentir aceito, pois um dia viria a ser o "dono" da oca, o chefe daquela família. Então essa característica de receber bem gente até mesmo de outras aldeias, que vinham de fora para casar, viria daí. Curioso, né?
    Bjs,
    Maíra

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  5. Achei muito bom seu texto, Gean...
    Parabéns!!!

    Gostei do ponto dos tambores, me fez relembrar alguém... rs!
    Vc citou pontos realmente ocorridos e despercebidos em nossa sociedade(a do metrô, entre outros).
    Concordo com o Christian, se não fosse o problema social...o Brasil seria um dos lugares turísticos mais interessantes.
    Mas pra isso ocorrer ainda falta muita coisa (minha opnião)... Mas acho que se todos se esforçarem e os polícos colaborarem, tudo dará certo!!!

    Novamente Parabéns pelo texto!
    Mais uma vez vc arrasou garoto.
    Abraços!

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  6. Que bom ler teu artigo Gean.
    Onde moro me perguntam de onde sou–Minas, Sampa, ...já me perguntaram se sou carioca..acreditas?)
    Essa questão do sotaque mexe com a curiosidade humana.é bom ser curioso, ruim mesmo é quando eu respondo...sou do Piauí...onde o Piauiês é predominante(lógico)...sempre há uma surpresa como se eu tivesse que falar o Piauiês.
    Quanto ao exagero por agradar estrangeiros supervalorizando eles, isso é incrível, muitas vezes repugnante, nauseante..., enquanto a nossa imagem lá fora inda é impregnada na maior parte deles “como uma grande floresta em desmatamento e, onde há uma pouca civilização só temos jogadores de futebol, mulatas e negras seminuas sambando e ao mesmo tempo se prostituindo, blá, blá, blá.”
    Vamos ser otimista!!!...Isso tem mudado!!!......................... tem? onde?
    Os EUA, Espanha e Portugal a toda hora deportam brasileiro(a)s estudantes julgando-os como futuras prostitutas ou ladrões de seus empregos, sempre generalizando, discriminando.
    Cadê o princípio da reciprocidade, que até o Presidente tem cobrado ultimamente.
    Somos bons, genuinamente, desde as tribos indígenas, como diz Mara, isso não é ruim, não precisamos ser maus, só precisamos também exercer isso com nosso próprio irmão de pátria, seja ele negro, nordestino, pobre e sem sobrenome europeu.
    Ideologia barata e cruel, muito cruel, que limita e determina o que cada um deve ser.
    E quem disse que isso é o ideal?
    Isto é histórico, cultural, a socialização de cada um já repassa tudo naturalmente,.... mas eu discordo dos padrões fincados nas pessoas pela sociedade por causa da região em que vive, do sobrenome Silva que carrega, da cor que herdou, dos costumes da sua raça. Sou negra e brasileira, mas nem ao menos sei dançar samba, também não acredito em macumba, sou do nordeste e não gosto de forró. Isso não é esnobismo ou perca de identidade...isso é escolha, é liberdade, é opção.
    O que precisamos é acabar com a ignorância.
    Seu artigo é muito bom.

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  7. Olá Gean! Primeiramente gostaria de evidenciar que proposta e a escolha do título foram muito felizes e pertinentes. Está bem articulado, coerente, conciso e a progressão é excelente.
    Continue assim, Maestro das Palavras.

    Diego DOS SANTOS Reis. (Ascendência negra também, com orgulho.)

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  8. Oi, Gean. Eu nao entendo tudo de seu comentario aqui, mas eu sei alguma de isso. Parabens por um mutito bom trabalho no isso blog e comentario. Eu entenedo que esta sobre coisas dos etnicos na sociedade do Brasil. De viajando a Brasil e meu envolvimento com brasileiros naqui no America, eu entendo sobre a variedade dos grupos etnicos no Brasil. Que bom analisiso :) ! Andrew J. (Andre Tiago) Persac

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