Até bem pouco tempo, ecologia era assunto de neo-hippie e quem dava importância à preservação do meio-ambiente era eco-chato. Pensar o planeta em uma visão mais holística da existência era questão para esotéricos, monges e afins. Até mesmo a palavra holística era – e ainda é – quase sempre acompanhada de um certo preconceito ou desdém. Conceber o homem como ser integrado ao meio em que vive, do qual faz parte, podendo modificá-lo para o melhor e o pior é bastante difícil em uma vida atribulada por questões prágmáticas.
Em um mundo em que todos lutam pela sobrevivência, olhar o entorno e enxergar mais do que o restrito, conseguir enxergar e reconhecer o complexo sistema em que estamos inseridos exige realmente uma certa boa vontade.
Atropelado pelo cotidiano capitalista, o meio ambiente era assunto para quem dispunha de tempo, quase um artigo de luxo. O tema só entrou em discussão mais efetiva com a divulgação, no início do ano passado, do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas. O IPCC (sua sigla em inglês) é formado por dois mil e quinhentos especialistas internacionais, que nos últimos quatro anos analisaram os estudos científicos publicados sobre as mudanças climáticas no planeta. O relatório, de 29 de janeiro de 2007, contém prognósticos não exatamente agradáveis sobre o futuro da Terra, que indicaram que talvez a tal visão holística, considerando sociedade e ambiente como setores atrelados, cujos problemas só podem ser resolvidos se pensados em conjunto, seja mesmo uma via possível.
Até porque, de forma bem imediata, de que adianta cada indivíduo, aos trancos e barrancos, conseguir equilibrar vida financeira e emocional se em um futuro próximo não houver mais vida?
Para que a humanidade possa continuar existindo como a conhecemos, e nesta humanidade estão já compreendidas as gerações mais novas de hoje, é urgente que se aja com esse objetivo. Isso, obviamente, se for de interesse geral que a humanidade continue existindo.
Alguns dos principais pontos do relatório já demonstram a abrangência dos efeitos da atual degradação. O longo prazo tem ficado cada vez mais curto e as previsões chegam a falar em menos de cinqüenta anos. Diferente do Protocolo de Kyoto, o relatório do IPCC mostrou que, além de governos e empresas, é necessário mobilizar também – e principalmente – a sociedade civil nesse sentido. Em relação aos governos, o processo de globalização destituiu-os de efetiva voz de comando que uma vez possuíram, e eles agora podem ser (no máximo) mecanismos reguladores em articulação com as empresas.
Quanto a estas, já está claro que “responsabilidade ambiental” tornou-se um slogan publicitário, que a “marca verde” também é um negócio e que o hypado mercado de carbono pode acabar transformando o mundo em ilhas de fábricas esfumacentas com uma cerca de árvores reflorestadas – como já advertira o cientista inglês James Lovelock, em seu livro A Vingança de Gaia, de 2006.
Nesse túnel sem um fim luminoso, o que se apresenta como única solução viável é a mobilização da sociedade em seus indivíduos – já que são eles, em separado, que constituem, em conjunto, os governos e as empresas. Se possivelmente muitos cidadãos não consideram ter culpa nesse processo, atribuindo-na quase sempre às “entidades superiores” empresas e governo, todos começam a atentar para sua responsabilidade na transformação deste painel. No entanto, entre a conscientização e a ação, uma postura realmente ativa em relação a como tentar reverter ou neutralizar esse quadro dificlimente é adotada pelos indivíduos, que não se consideram parte do sistema.
O que é negativo é do outro, é alheio - e nesse eterno “deixa que eu deixo”, a consciência de suas culpas e responsabilidades quase nunca se transforma em ação.
Mecanismos de um sistema mais abrangente, os indivíduos precisam tomar parte, assumir o poder que têm dentro desse sistema, assumir uma posição e suas devidas conseqüências. Como todas as questões mais debatidas na atualidade - corrupção, pobreza, violência -, a atitude ambiental se revela, acima de tudo, uma questão de postura.
Maíra Fernandes de Melo
Em um mundo em que todos lutam pela sobrevivência, olhar o entorno e enxergar mais do que o restrito, conseguir enxergar e reconhecer o complexo sistema em que estamos inseridos exige realmente uma certa boa vontade.
Atropelado pelo cotidiano capitalista, o meio ambiente era assunto para quem dispunha de tempo, quase um artigo de luxo. O tema só entrou em discussão mais efetiva com a divulgação, no início do ano passado, do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas. O IPCC (sua sigla em inglês) é formado por dois mil e quinhentos especialistas internacionais, que nos últimos quatro anos analisaram os estudos científicos publicados sobre as mudanças climáticas no planeta. O relatório, de 29 de janeiro de 2007, contém prognósticos não exatamente agradáveis sobre o futuro da Terra, que indicaram que talvez a tal visão holística, considerando sociedade e ambiente como setores atrelados, cujos problemas só podem ser resolvidos se pensados em conjunto, seja mesmo uma via possível.
Até porque, de forma bem imediata, de que adianta cada indivíduo, aos trancos e barrancos, conseguir equilibrar vida financeira e emocional se em um futuro próximo não houver mais vida?
Para que a humanidade possa continuar existindo como a conhecemos, e nesta humanidade estão já compreendidas as gerações mais novas de hoje, é urgente que se aja com esse objetivo. Isso, obviamente, se for de interesse geral que a humanidade continue existindo.
Alguns dos principais pontos do relatório já demonstram a abrangência dos efeitos da atual degradação. O longo prazo tem ficado cada vez mais curto e as previsões chegam a falar em menos de cinqüenta anos. Diferente do Protocolo de Kyoto, o relatório do IPCC mostrou que, além de governos e empresas, é necessário mobilizar também – e principalmente – a sociedade civil nesse sentido. Em relação aos governos, o processo de globalização destituiu-os de efetiva voz de comando que uma vez possuíram, e eles agora podem ser (no máximo) mecanismos reguladores em articulação com as empresas.
Quanto a estas, já está claro que “responsabilidade ambiental” tornou-se um slogan publicitário, que a “marca verde” também é um negócio e que o hypado mercado de carbono pode acabar transformando o mundo em ilhas de fábricas esfumacentas com uma cerca de árvores reflorestadas – como já advertira o cientista inglês James Lovelock, em seu livro A Vingança de Gaia, de 2006.
Nesse túnel sem um fim luminoso, o que se apresenta como única solução viável é a mobilização da sociedade em seus indivíduos – já que são eles, em separado, que constituem, em conjunto, os governos e as empresas. Se possivelmente muitos cidadãos não consideram ter culpa nesse processo, atribuindo-na quase sempre às “entidades superiores” empresas e governo, todos começam a atentar para sua responsabilidade na transformação deste painel. No entanto, entre a conscientização e a ação, uma postura realmente ativa em relação a como tentar reverter ou neutralizar esse quadro dificlimente é adotada pelos indivíduos, que não se consideram parte do sistema.
O que é negativo é do outro, é alheio - e nesse eterno “deixa que eu deixo”, a consciência de suas culpas e responsabilidades quase nunca se transforma em ação.
Mecanismos de um sistema mais abrangente, os indivíduos precisam tomar parte, assumir o poder que têm dentro desse sistema, assumir uma posição e suas devidas conseqüências. Como todas as questões mais debatidas na atualidade - corrupção, pobreza, violência -, a atitude ambiental se revela, acima de tudo, uma questão de postura.
Maíra Fernandes de Melo
Maíra,
ResponderExcluirO titulo de seu artigo não poderia ser mais explicito, afinal “Uma questão de postura” não é apenas ideologia e, sim uma questão de ser praticado.
O meio ambiente nos últimos anos vem sofrendo muito com a degradação e nada, nem ninguém havia se dado conta disso, até que alguém notou e resolveu fazer disso bandeira de ONG e “Responsabilidade Social” das empresas poluidoras.
Cuidar do meio ambiente está muito além de campanhas para abraçar árvores ou, passeatas contra as queimadas. Cuidar do meio ambiente é fazer a cada dia, cada minuto, cada segundo aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco. A natureza está reagindo às ações do homem... e isso significa uma resposta rápida aos ambientalistas que ainda não encontraram na prática o que fazer para evitar a tragédia que pode cobrir o planeta.