quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Sovaco de Irene



Irene, sambista, carioca, mãe solteira, perdeu dois maridos para a branquinha. Toma duas condições lotadas para ir de sua casa em Curicica para o trabalho de diarista em Laranjeiras e reza para que playboys não a espanquem no ponto de ônibus.
Foi numa quarta-feira de jogo no maracanã que encontrou com Kadu, um jovem universitário herdeiro de uma irmã insana viciada em Yoga e de um apartamento conjugado cheio de dívidas. O primeiro encontro deles foi tumultuado porque deu-se em meio ao corre-corre para sentar que inferniza, todos os dias, a vida dos usuários do metrô. O odor dos sovacos de Irene estendidos extasiava o rapaz tanto quanto as “balinhas” que consumia nas chopadas da universidade. A diarista brejeira percebia a animação do rapaz ao olhar suas axilas e logo recordava seu tempo de meninice quando se podia ir e vir sem se preocupar com achadas balas - perdidas. Tempo no qual a vida havia preço maior do que cinco reais.
Quanto mais tentava desviar o pensamento, mas visível ficava a "animação" de Kadu que a essa altura já segurava a mochila a sua frente evitando o contato direto com Irene. O moço tentava distrair-se lembrando da morte da cachorra da sogra do vizinho que teve dengue; ressentindo a raiva do bandido que lhe roubara o celular e treze reais e noventa e cinco centavos no sábado de carnaval. Suava, como suava! E o encantador sovaco de Irene o deixava cada vez mais atraído. Chegou a pensar que era efeito de feitiço e que deveria, o mais rápido possível, recorrer ao bispo Afonso quem lhe curaria de tal magia. Ou ao menos poderia contribuir com parte da próspera arrecadação dos últimos meses que também seria bem-vinda. Mas como quem espanta uma mosca varejeira, sacudiu a cabeça para que dos pensamentos se livrasse.
Irene que estava mais sem–graça do que novela mexicana alcançou um caderno desses jornais de alta circulação mas de pouco prestígio e começou a tentativa de lê-lo e evitar o assédio do rapaz que não podia desviar de seu “mata-leão” o olhar hipnotizado. Na capa, via-se o sofrimento da família de gringos italianos que lamentavam o corpo do filho estendido na Atlântica, no segundo caderno estava a tabela do campeonato brasileiro, em destaque a melancia...
O calor que emanava da axila de Irene fazia o mancebo recordar do calor que passava dentro da sala de aula da escola pública que estudara, onde também faltava verba para merenda, verba para manutenção dos ventiladores, faltava verba!
O duelo cravado entre Kadu e o moço que agora estava face-to-face com o sovaco de Irene e que iria estar descendo na estação carioca - pois trabalhava na tel&com - era tão intenso como as infindáveis batalhas partidárias de Brasília – que somente afundam o país. Kadu não agüentava a idéia de estar longe de pérolas tão suáveis e com cheiro de “Minâncora”.
E, somente quando já beirava à loucura, o jovem universitário, como num está-lo, libertou-se da sedução sovacal de Irene. Foi quando avistou os bíceps esculpidos de Pedro Inácio:


Imagem: bp2.blogger.com/.../s320/vento+de+paixão.JPG

Um comentário:

  1. Parabéns Gean...
    Mais uma vez arrasou no texto!!!
    Lí o "Sovaco de Irene" e rir bastante (ñ sei se essa foi a intenção), mas ñ pude conter.
    Alguns pontos são bem "famíliares", diria até, já ocorridos com pessoas próxima (Negão do Flamengo, lembra?! kkk).

    Queria deixar uma OBS:o nome da Suvaqueira, acho que deveria ser "Délinha" (motivos Suvacais), e ñ Irene, até parece Ireno... Hahaha!!!

    Beijos, Muito bom!!!

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